domingo, julho 26, 2009

Sem Palavras
foto: reprodução
Sinal de “eu te amo’’

Sexta-feira à noite, bar lotado, ela resolve levantar para retocar a maquiagem no banheiro, mas na verdade o que queria mesmo era conferir quem de interessante marcava presença no ambiente. Tenho uma amiga que diz que é geralmente no caminho do toalete que acontecem as grandes surpresas, bom pelo menos para ela é assim. Em sua frente dois caras gesticulando, sinais e mais sinais com as mãos e toda aquela confusão aparentemente armada para chamar a sua atenção. Ela com duas doses de dry martini, entra na brincadeira e começa a gesticular na tentativa de interagir, afinal de contas, os caras eram totalmente atraentes. Poucos segundos, já não entendendo mais nada, ela descobre que na realidade, os dois eram surdos! Tudo explicado e muito complicado agora para o lado dela. Não entendendo quase nada, eis que ele gentilmente tira do bolso o celular e começa a escrever mensagens e mais mensagens para se comunicar com ela. Bendito seja o celular, salva a gente de cada uma! Ela foi gostando da situação e logo foi aprendendo uns sinais, se saindo bem na comunicação. Teve atitude e não criou nenhuma barreira em relação aquela deficiência. Aos poucos foi aprendendo que ao invés de falar no pé do ouvido, deve-se olhar dentro dos olhos e falar pausadamente; que para começar uma conversa, basta tocar levemente em seu braço. E assim foi acontecendo aquela noite e eles adorando toda a situação. A música estava rolando e ela quis saber como é que eles dançavam uma vez que não ouviam o som. Na verdade, eles sentem o som pelas vibrações das pernas e dos pés, e de quebra, dão aquela olhadinha para os que dançam. É de arrepiar! Foi numa dessas olhadinhas que um deles arrancou um super beijo dela. Sem palavras, afinal de contas, naquela situação elas não serviriam para nada, ela retribuiu todo aquele afeto. Tem momentos na vida que valem a pena serem vividos fora do convencional, digo sair do nosso habitual, do que estamos acostumados. Devemos nos permitir experimentar outros “mundos”, conhecer o outro lado da história. Parece muito louco falar de dois mundos, mas é assim que alguns surdos classificam o mundo: os das pessoas que ouvem (os ouvintes como eles classificam) e dos surdos. Vamos fazer com que estes dois mundos se unam, e então trocar experiências, comportamentos e aprendizados. Devemos respeitar todas as formas de comunicação e estar receptivas a elas. Sabe aquela história de que todo amor é cego, surdo e mudo. Pois bem, o dela agora era só surdo!